domingo, 27 de junho de 2010

Dois mil e um - Os Mutantes

Astronauta libertado
Minha vida me ultrapassa
Em qualquer rota que eu faça
Dei um grito no escuro
Sou parceiro do futuro
Na reluzente galáxia
Eu quase posso palpar
A minha vida que grita
Emprenha e se reproduz
Na velocidade da luz
A cor do céu me compõe
mar azul me dissolve
A equação me propõe
Computador me resolve
Astronauta... (refrão)
Amei a velocidade
Casei com sete planetas
Por filho, cor e espaço
Não me tenho nem me faço
A rota do ano-luz
Calculo dentro do passo
Minha dor é cicatriz
Minha morte não me quis
Astronauta...(refrão)
Nos braços de dois mil anos
Eu nasci sem Ter idade
Sou casado sou solteiro
Sou baiano e estrangeiro
Meu sangue é de gasolina
Correndo não tenho mágoa
Meu peito é de sal de fruta
Fervendo no copo d'água
Astronauta...(refrão)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Gosto do que gosto

Gosto quando te calas

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda

sábado, 8 de agosto de 2009

Sem palavras



Uma cama desarrumada
Uma ou duas semana passaram e eu ainda quero esquecê-lo. Beijos sempre são malditos pra despertar sentimentos, mesmo quando não os quer. Eu não queria sentimentos, não naquela ocasião, não nesse momento. Mas, como eu poderia desviar? Eu estava embriagada. Cai da cama desarrumada. Uma mistura de afeto com tesão pesavam a minha cabeça fazendo-a girar. Sempre me questiono porque saio nua por aí. Nunca compreendo as minhas próprias respostas, tão baseadas em argumentos de sinceridade e prazer de ser o que se é. Não, eu não queria mais viver sob aquele sentimento de necessidade de limite para as sensações. Pior que masoquismo... Essa sensação desbota a minha alma colorida, me transforma num ser egoísta e pouco apaixonado por si. Prefiro viver comigo mesma. Amo-me de corpo inteiro. Não quero deixar de ser o que sou pra mim.
Mesmo não negando o prazer dos corpos eu me senti mais uma vez pressionada a emudecer a voz do desejo. Não quero isso não. O prazer está em ser o que se quer ser, sentir o que insurge em cada ocasião. Qualquer forma de controle é pequena e mesquinha. Abaixo as amarras dos desejos. Tô fora de clausuras. Principalmente quando me sinto pressionada a construí-las.

domingo, 2 de agosto de 2009

Gozo, nao nego


Um sorriso mais gostoso que as mãos mastigaram a minha razão. Misturando afeto com tesão embriaguei-me sem medos dos vexames que eu pudesse causar. Desatei laços e pressionei entre as minhas cochas a vergonha social. Meu gozo derreteu as fitas do aprisionamento. Liberta prossigo num vai e vem suave, sem pressa ou dissimulações.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Minha dor



O que em me incomoda não é nada além dos “valores” (não casualmente assemelhado a linguagem da troca de mercadorias). Se eu pudesse libertar os grilhões já em meu ser incorporado, com toda a minha força, sem ressentimentos, adentrava no mar dos prazeres. Não posso! Sei que seria perseguida. Sei o quanto sou perseguida por ainda debater-me contra a opressão desses malditos valores.

O capital me transformou numa pessoa com medo de sentir o prazer de ser, de somente ser humano. Tô congelada! Esse frio me queima e a dor arde. Adentro o inferno sem entender como abro tais portais.

Nossos corpos estão aprisionados, mas nossas almas vagam. Eis a esperança.

Estou saturada de tanto horror e parca confiança na vida. Quem retirou de mim o ímpeto revolucionário? (me pergunto). Mas nem os ecos da minha própria voz posso ouvir. Ao meu lado só vejo, e na mesma proporção ouço, o desespero dos meus iguais. Sim, são iguais a mim, os que por obra do destino (?) desesperam-se ao sentir a barbárie instaurada. Sentimos a dor de ver o pavor e sofrimentos nos olhos alheios.

As amarras do capital aprisionam nossas mãos e nossos pés, mas os nossos corpos decrépitos ainda pulsam em resistência ao horror. Estamos fracos e nossa dor é alimentada pelo perambular de almas vagantes... Não vislumbramos outro caminhar. Porém não negamos a certeza de que outra alternativa é possível.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sociedade machista e imbecilizada!!!!

Como não ter um olhar pessimista diante de tanta hipocrisia??? Não consigo vislumbrar nada a partir da realidade que vejo, presencio e me conforma. Nada além da opressão. Homens nojentos, mulheres opressoras. “Seres coisas” !!!!

Tomo um banho de chuva pra lavar minha alma, meu desespero, egoísmo e tudo o que me cerca. Mais nada, nada se desfaz! Não há saídas, não há possibilidades. Só derrotas! Desmancho-me com as leituras de um passado de luta que não nos levou a vitória - Desumanos?! Mas, quem é a humanidade se não, nós mesmos, seres humanos que a compomos? - Continuamos oprimidos e o entrelaçamento de opressões é extenso.

Enquanto caminho, percebo homens, muitos, e que me oprimem somente por que sou fêmea. Será que meu sexo só me incumbe o dever de servi-los? Meu corpo tem que ser moldado aos seus desejos, minhas atitudes também. Não possuo o direito de ter subjetividade, sentimentos. Sou uma vagina a perambular pela cidade. E desacompanhada não há quem me represente. Ofereça-me segurança. Preciso de representantes para obter respeito e segurança? Gozado! Pessoas presas ao tempo das cavernas que não utilizam nem 1% do próprio telencéfalo altamente desenvolvido travestem-se com coisas para se sentirem gente (?!). Quantas coisas você precisa pra se sentir melhor? Quantas coisas ainda planeja comprar pra poder se sentir bem? Quantas coisas são necessárias pra traduzir sua personalidade? Ah! Assim não me reconheço em nada. Não sou nada, não quero ser nada, não quero ter nada. Não busco status.

Sociedade sexista que mercantiliza tudo! Mercantilizou meu sentimento, minha vagina,! e meus sonhos?! Não, não me enxergo nesse mundo! Eu odeio tudo o que me cerca tudo o que me oprime. O que mais a realidade me demostra? “Seres-robôs”! Oprimidos conquistando sonhos de opressão.

Quem nesse mundo imbecilizado ainda se preocupa com tudo aquilo que somente seres humanos são capazes de emanarem? Quem me responder a essa pergunta ganha um prêmio! Meritocracia lhe serve? O prêmio te convence como impulsionador pra atingir um objetivo? Meritocracia lhe serve como impulsionador para atingir sua própria liberdade? Quantas coisas ainda quer conquistar para se sentir merecedor da felicidade, da liberdade de poder ser, somente ser?

Não me julgue existencialista. Aliás, não me julgue! A história, é claro, nunca é contada pelos oprimidos. Não é que eu seja ingênua, eu não disse, nem pretendi dizer em momento algum que nós, as oprimidas e os oprimidos, poderíamos exercer nosso poder de articular interpretações, conectar causas e efeitos. Sei que não possuímos o direito de verbalizar o que sentimos. Oprimidas e oprimidos não são capazes de refletir, de elaborar, de analisar nada. Isso é o que nos dizem, e é no que acreditamos. Quantas pessoas que passam fome discursam sobre a dor de senti-la? O direito de expressão conquistado constitucionalmente há mais de 2 séculos, não nos garante absolutamente nada. Quem disse que letra de lei tem valor no vale dos oprimidos... ou suicidas? Estado democrático de direito... eu não te iludo. Responsabilize e culpabilize-se por sua pobreza interna e externa, intelectual e moral, e trabalhe. Trabalhe mais! Você ainda não amadureceu e de podre já caiu da árvore.

Sobre mim somente digo: não possuo letreiros, não chego dentro de caixa, não venho acompanhada de manual, nem de bula!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ao meu amor meus pensamentos


Sentada num canto qualquer de um café ela fumava um cigarro enquanto ainda se perdia na lembrança que insistentemente voltava. Á busca de conforto a consciência sublimava os acontecimentos tentando buscar entender os motivos que talvez justificasse a existência do amor. Ela queria se dispor do sentimento que a dominava, sem que seus sentimentos fossem controlados por outrem. Dizia a si que ele buscava reconhecer no domínio e na servidão uma convicção contrária a que procurava afirmar que é nisso que reside a felicidade da vida. Todavia, a “artesã” sabia que o “comerciante” esperava dela a subordinação de seus próprios sentidos à dominação da alma e estava bem convicta de que seria muito prazeroso se ele fizesse o mesmo. Acreditava que a libertação dos sentidos seria a possibilidade real de satisfação dos dois.

Era um caso comum, um rapaz esquizofrênico materialista e uma moça histérica abstrata que pressupunham ser a ausência de uma má consciência a possibilidade real de satisfação. Por algum motivo, mal justificado por suas virtudes sociais, em algum momento de suas vidas haviam se encontrado e, somente por isso, eram os indivíduos centrais do caso. É claro que não percebiam ser por hábito e obrigação dessa sociedade (que reifica tudo, inclusive as relações interpessoais) o impelimento à busca incessante na mesquinhez furtiva. A cultura já havia liberado eles do racionalismo, já havia introjetado neles a natureza que molda a seu modo todas as inclinações e forças da alma.

Os fatos de suas vidas “meio intelectual - meio esquerda” se desenrolavam no pátio de uma universidade (dita a melhor do país) e no interior de uma esquerda, na verdade, não menos decadente que a primeira. Ambas não exploravam a práxis enquanto elemento nuclear. É bem verdade que os dois não viviam um momento propício para que decisões autônomas tornassem o primeiro encontro numa relação fatídica. Mas, por outro lado, relações sinceramente aprazíveis não são previsíveis. Na ordem do dia, em suas agendas mal situadas entre o belo e o necessário, não havia espaço para satisfações de uma nova exigência de felicidade - algo comum no cotidiano de jovens que vivem intensamente suas “paixões”(amor e ódio, alegria e tristeza, ciúme, vergonha, arrependimento, gratidão etc.) como espírito da vida. Mas, mesmo assim, decidiram se conhecer melhor.

Ela costurava nas suas relações um traço decisivo para a afirmação de um mundo mais valioso, incondicionalmente confirmado e eternamente melhor para si e para os outros “a partir do interior”. Enquanto ele estabelecia suas relações no plano do imediato, sem que as qualidades e necessidades pessoais adquirissem relevância, tais como objetos de satisfações possíveis ou não. Em outras palavras, a igualdade abstrata entre eles se realizava no patamar de uma desigualdade concreta.

Sim, é relevante considerar que ele dispunha de um poder de compra superior ao dela, o que o colocava numa posição privilegiada, quando comparado a ela, para adquirir as mercadorias exigidas para assegurar sua felicidade. Porém, também é considerável destacar: à medida que ela pintava em seus tecido sociais o sofrimento e o lamento como eternas forças do mundo, negava a satisfação universal no mundo material, depositava os traços fundamentais de sua personalidade no ideal.

Uma situação verdadeira. A existências dos dois naquele encontro mal adornado confrontava uma injustificada resignação em face do cotidiano. Na busca de assunto, os dois situavam os indivíduos e a si mesmo acima das mediações sociais, confrontando-se como Deuses justificavam entre si um mundo a ser modificado por meio disso ou daquilo. Esquecendo-se que o mundo só poderia ser modificado quando as mediações sociais desaparecessem, na realização de um mundo totalmente outro; que a humanidade precisa ser conduzida para além de seu próprio idealismo.
Eles, somos nós dois, meu caro, não reconheciam quaisquer outros além deles mesmos e nem uma vida outra que não esta aqui. Investigavam o processo do conhecimento do mundo já reificado como se, assim, pudessem ir contra a volubilidade cotidiana, contra as imposições do realismo. Suas almas, profundas e delicadas, estavam equivocadas na luta por um futuro melhor para a humanidade.

O que aconteceu aos dois? No início juraram amor eterno, numa crença além do celestial, celebraram um amor além da alma. Assumindo o anseio pela constância da felicidade terrena buscavam a superação do fim. Foi depois de alguns meses sob acusações de traição e individualismo, que um direcionava ao outro, perceberam que a entrega gratificante da individualidade à solidariedade incondicional não mais se realizava, nem em um nem noutro e passaram a enxergarem-se através dos interesses individuais de forma independente e auto-suficiente.

Entre o “comerciante” e a “artesã”, o conflito de interesses havia “desgastado” a durabilidade duradoura, suas almas não escaparam a lei do valor, nem da reificação. A exigência da exlusividade individualista sob a aparência da fidelidade incondicional tornava obrigatória aos sentidos o que a alma era incapaz de oferecer: a indivisibilidade da pessoa. Possibilidade e realidade efetiva agora estavam de fato confrontadas. A harmonia inexistente entre a interioridade e a exterioridade revelava o perigo da tentativa de controle da racionalização e da felicidade.