
A saliva, salgada e sem azeite, umedecia as palavras que já não se permitiam aprisionar. Depois de beber o mar, o rancor ingerido precisava ser liberado, e, como a gota d’água trasbordante havia tocado o semblante, não pode contê-lo. O necessário deveria ser concretizado sob as ondas bravias. Palavras doces e amenas saiam de foco, a raiva estava em erupção. Lavas rastejavam diretamente proporcional a indignação, derretendo antigas armadilhas tautológicas de opressão, queimando açoites firmados no acordo burocrático.
Seria suspeito se fosse o movimento de um, mas eram de mais tantos outros sobreviventes da opressão, e eles aglutinavam-se. Ligados por um misto de inconformismo e dor aquele emaranhado de pessoas crescia em volume e extensão. As guardas, inimigos de outrora, incorporavam-se. À medida que percebiam a tolice de tentar conter aquele ímpeto transformador adensavam a mistura, que crescia. Crescia, crescia, como se estivesse sido preenchida por fermento. Crescia tal como a massa de bolo corretamente aquecida...
Derrubaram palanques, estátuas, as diferenças que obstaculizam a emancipação, e tudo mais que trouxesse a lembrança símbolos da submissão consentida. Estavam decididos, como se tivessem acordados em plenária, a solidez da ação. As formigas agiam sem palavras de comando, sem oratória. Agiam de dentro para fora, sem performances. A catarse, acionada pela ação individual, era coletiva, e apresentava a permanência daquele novo e continuo estado. Não havia divisor de águas porque as águas foram bebidas. Estavam abertos os portais da revolução permanente.
Muito bonito.
ResponderExcluir"Agiam de dentro pra fora, sem perfomance".
Muito bonito.
Assim que tiver um tempo, quero retratar umas cenas dessa revolução. À altura.